Estudo e discussão do texto “Autores Mirins” – Nova Escola – mar/08.
Elaboração de situações de leitura e escrita para retirar todos os alunos da fase Pré-Silábica.- Quais atividades e momentos de reflexão sobre a leitura e escrita já estamos proporcionando;
- Quais atividades e momentos de reflexão sobre a leitura e escrita iremos proporcionar?
Autores mirins produzem um livro de contos na pré-escola
Há algum tempo, acreditava-se que os pequenos de Educação Infantil não estavam prontos para participar de atividades de leitura e escrita. Porém as pesquisas nessa área constatam que as crianças, por menores que sejam, já têm contato com diversos tipos de texto e seus portadores – livros, jornais e revistas –, principalmente as residentes em zonas urbanas. Por isso, nunca é cedo demais para ampliar o contato com a leitura e a escrita e ajudar na construção da familiaridade com o mundo letrado.
Fátima Regina dos Reis Ribeiro, ciente disso, não teve dúvida em propor um projeto de escrita com seus alunos de 4 anos da EM Padre Donato, em Itajubá, a 444 quilômetros de Belo Horizonte. Certa de que teria sucesso no trabalho com a turma de 30 crianças, em 2006 ela elaborou o projeto Uma História e Muitos Autores. “Meu objetivo era motivar o hábito da leitura e da escrita”, explica.
Especialista em alfabetização (leia mais sobre ela no quadro), a boa execução da idéia fez com que ela fosse escolhida uma das dez Educadoras Nota 10 no Prêmio Victor Civita de 2007 (leia o projeto didático no quadro). Para a selecionadora Silvana Augusto, “as várias atividades de reescrita garantem a apropriação das características da linguagem escrita, o que facilita o processo de alfabetização” (leia o comentário da especialista).
O primeiro passo foi fazer uma avaliação inicial para saber o que as crianças colocariam no papel em situações em que precisassem ler e escrever. Fátima fez um ditado e verificou que muitos já usavam letras. Outros, porém, as misturavam com desenhos e símbolos. Ambos os grupos estavam na fase pré-silábica, em que letras diferentes são grafadas sem critério.
Ela selecionou cinco diferentes versões de A Pequena Sereia para usar nas rodas de leitura. A variedade mostrou à turma que uma história pode inspirar vários desfechos e conter particularidades e que cada autor tem uma maneira de escrever. Ela iniciou as seções pelo texto mais simples e, à medida que as tramas se tornavam complexas, ampliava-se a quantidade
de informações sobre as características dos personagens e dos ambientes em que eles viviam. Esses dados foram organizados em uma tabela. “A sistematização foi fundamental para que todos conhecessem os enredos e identificassem as partes comuns”, justifica Fátima.
Produção e revisão
Quando as crianças estavam dominando as aventuras da sereiazinha Ariel e seus amigos, a professora montou três grupos de trabalho com base no nível de aprendizagem. Como a meta era desenvolver a escrita, ela juntou quem usava letras com os que ainda se valiam de símbolos e teve o cuidado de colocar lado a lado os narradores mais desenvoltos com os que conheciam muito bem os detalhes das histórias. Dessa forma, Fátima seguiu as orientações que a pesquisadora Ana Teberosky faz em seu livro Aprendendo a Escrever: “Quando a realização em grupo é estimulada, o processo individual de aprendizagem é enriquecido pela colaboração, distribuição, negociação e discussão das tarefas”.
Autores de textos
O desafio foi descrever os personagens e os cenários, detalhar passagens marcantes e imaginar diferentes finais para a narrativa. Com os desfechos criados, foi hora de ditar as idéias para os adultos que serviriam de escribas. Outra professora e a coordenadora pedagógica ajudaram Fátima nesse momento. Assim o projeto estimulou os pequenos a se sentirem autores e a terem noções sobre a escrita.
Os textos foram transcritos em papel craft, com letras grandes para a revisão coletiva. “Expliquei que para o texto fluir era preciso de vez em quando substituir a palavra sereia, muito repetida, pelo nome dela ou por um pronome, como ‘ela’.” Os pequenos também queriam demonstrar os conhecimentos sobre os animais marinhos, já que tinham sido objeto de uma pesquisa recente. “Como eram muitos bichos, aproveitei para ensinar a usar ‘etc’.” As correções foram feitas no próprio cartaz com setas e riscos. Muitas vezes, a professora provocou as crianças para saber se elas conseguiam argumentar sobre as escolhas. A garota Evelyn Pinto Moreira justificou na hora o uso da palavra poção em vez de veneno: “Ela é encantada e não mata”.
A professora leu em voz alta os textos corrigidos, levou-os novamente para casa e digitou-os no computador. Dessa vez, distribuiu um trecho em cada página, que posteriormente foram ilustradas pela garotada com lápis de cor, também usados para fazer a capa e o índice.
Ensaio geral
Para garantir que cada criança tivesse o próprio exemplar, a professora reuniu todo o material, tirou cópias e montou o livro. Eles decidiram fazer um sarau literário para finalizar o projeto. Nos ensaios, ficou decidido que cada um contaria o trecho que ilustrou. No dia marcado, pais, familiares e colegas de outras turmas foram prestigiar o evento e ainda concorreram ao sorteio de um exemplar.
Na avaliação final, Fátima fez uma numa nova sondagem de escrita e constatou que todas as crianças já usavam letras para escrever e aprenderam algumas das diferenças entre a linguagem e a escrita. “Se a gente colocar um monte de ‘aí’ na história, fica feio”, conta o menino Filipe Saulo do Nascimento.
Palavra da especialista
Silvana Augusto, selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, valida o projeto de Fátima por abordar com propriedade um importante conteúdo da Educação Infantil com crianças de 4 anos: as narrativas literárias. “Ela mostra como é possível ampliar as possibilidades de linguagem para essa faixa etária”, afirma. “O modo como se fala é muito diferente da maneira
que se escreve, e os pequenos de préescola só conseguem distinguir isso quando ouvem com regularidade a leitura de bons textos.” O trabalho tem estrutura coerente com seus fins e foi organizado em etapas (conto, reconto, produção de escritas por meio de ditado, revisão e ilustração) – todas necessárias para a elaboração do produto final. Além disso, Fátima ampliou o repertório da turma quando pesquisou e apresentou diversas versões de uma mesma história. Palavras como superfície, poção e gruta, antes desconhecidas, passaram a integrar o vocabulário dos pequenos.
Quem é Fátima
Fátima Regina dos Reis Ribeiro nasceu em Itajubá, interior de Minas Gerais, e ainda menina decidiu ser professora. Assim que terminou o Magistério, começou a lecionar. Dos 22 anos de profissão, metade ela passou na EM Padre Donato, onde está até hoje. Boa parte desse tempo, esteve na função de diretora, à qual chegou por meio de eleição. Mas o alto cargo nunca afastou dela a vontade de voltar a conduzir uma sala de aula. Em 2003, finalmente, assumiu uma turma. Empolgada, iniciou a pós-graduação em alfabetização em uma instituição
de sua cidade. Os estudos fizeram com que ela sentisse segurança para propor e executar o projeto que lhe trouxe o prêmio Educadora Nota 10 no ano passado. Dentro ou fora de sala, Fátima é alegre e divertida, o que faz dela uma das pessoas mais populares da escola e da comunidade. Morando perto da escola, ela vai trabalhar a pé todos os dias e faz questão de sair de casa meia hora antes: “Para conversar um bocadinho com os conhecidos na rua”.
Projeto didático de leitura e escrita
Produção e Revisão de texto realizada pela professora Lucineia com os alunos da Fase I
Objetivo: produção coletiva; organização de ideias; ampliação de vocabulário; desenvolvimento da oralidade; sequência lógica.
Desenvolvimento: Reconto coletivo de história apresentada na Leitura Diária tendo o professor como escriba. Revisão coletiva do texto tendo a professora como orientadora.
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